quinta-feira, abril 21, 2011

A Páscoa e o Julgamento Humano


Desde os mais remotos tempos a fidalguia é objeto de desejos da plebe. 

Estudos feitos entre os aborígines australianos, mais antigo povo do planeta, confirmam isto. Não que sejam fidalgos os petistas entronados ou os plebeus governados, tupiniquins. Não porque sejam senhores e súditos, ricos ou pobres, mas por estarem em lados opostos no poder e serem homens, imperfeitos e falhos, e que por conceito há muito difundido assim o são por querer do Criador, o que conflita com a mesma doutrina da imagem e semelhança Deste. Mais isto é coisa pra teólogos, distante pois de nossa discussão.

Ocorre-me lembrar que nunca, em nenhum momento da história, governante algum, com ou sem origem operária deixou de ser massacrado por seus pares anteriores. Aliás, estenda à lista dos governantes todos àqueles que presidem, lideram, gerenciam ou comandam. Vá por aí à fora. Viaje na imaginação e leve junto a estes desde os presidentes de grêmios escolares, do apostolado e das filhas de Maria, da seleção brasileira e do pé rapado futebol clube e mesmo assim não acabará a infindável lista de desafetos do poder.

Freud explica. É tudo uma questão de desejo que ao se realizar sucumbe a um novo desejo. “Insites” de poder.

Foi e será sempre assim. 

Que o diga Jesus Cristo, o Salvador dos homens, parte trina do Divino, que foi acusado sem o devido processo legal, julgado sem direito a defesa e condenado sem apelação e sem direito ao trânsito em julgado da sentença condenatória. Tudo isto com o apoio irrestrito daqueles que dias antes o fizeram desfilar em "jumento aberto" nas ruas sem saneamento básico da imortal Jerusalém, sob o farfalhar das folhas de palmeiras, até hoje benzidas nos domingos dos mesmos ramos, como se para perpetuar o conceito imoral de justiça dos homens.

Há dois mil e três anos uma semana santa lhe é concedia em homenagem a estas lembranças de injustiças tamanhas,  para que possamos reviver aquele julgamento ilícito, sob lutos, quaresmas e jejuns para poucos e férias para farras antecipadas de muitos. Enquanto isto, nas ruas dos Brasis e Jerusaléns da vida, milhões de Cristos, destes alguns ainda imberbes e pueris, quedam-se flagelados pela fome, desemprego, guerras, entre outras tantas injustiças sociais flagrantes, numa substituição tecnológica das cruzes, lanças e espinhos que flagelaram o Criador.

Nada há de mais satisfatório para o homem que ao eleger um dos seus, não importa a que nível, mesmo nos estágios paroquianos, para depois despojá-lo das vestes, trucidá-lo em praça pública e fugirem às pressas para a obscuridade de seus guetos.  Negam, executada a sentença,  mil vezes, com ou sem galo cantando, nunca terem visto o rebelde sem causa há pouco condenado. Depois voltam, consternados para afixar na lápide do trucidado: Eis o Rei dos Judeus, o Presidente do Povo ou o Soldado Desconhecido.

Nesta luta já tivemos de um lado, no passado,  Sarney, Itamar e Fernando, Lulas e Dilma no presente e anônimos que ainda virão, não importa, do outro lado estaremos sempre nós, perenes. Eternamente inquisidores a queimar na fogueira nossos iguais e junto com eles nossas vaidades.

Pedro Paulo Buchalle – Advogado e Hoteleiro

domingo, fevereiro 27, 2011

Náufragos

Náufragos


Parte -  disse a flor em prantos -
Solta tuas as amarras,
Iça tuas velas,
Não volte jamais.
E fez parar o tempo
E no seu ventre enfermo
Fez parir o vento.
E assim o viu partir errante
Buscando outro cais.
E ela enxertou-se num buquê de sonhos,
Se juntou as rosas
E amaldiçoou  em ais:

- Vais voltar um dia de velas caídas.
Quando tua quilha encalhar na areia,
Teu velame em teias
Tombará roto neste mesmo cais.
Casco fissurado a ranger desolado,
Na Praça D’armas, desgovernado,
Teu leme sem norte sozinho a girar.
Já não há mais tempo
Pros mares errantes.
Um navio fantasma, sem sonhos, sem mar.

Borralheira

Borralheira

Em brancas vestes bebeste
Desejos na madrugada.
Vestida de seda e bar
Deixaste solto no ar
O beijo da namorada.

Perambula a borralheira
Sem sapatos de cristal.
Todas as juras quebradas,
Todas as taças trincadas,
Farrapos sobre o varal.

Onde está o véu da noiva
E o vestido da Cinderela ?
A inocência perdida
Vagueia tal, mal vestida
Por entre luzes e velas...

Despetalando tuas rosas
Sem perfume no caminho;
O poste é teu leito em pé
E a porta do cabaré
Teu endereço e destino.

Vagueio eu também nas sombras
Perdido a me procurar.
Quem é que mudou o destino ?
E os meus sonhos de menino
Onde é que foram parar ?

Enfim o acaso encontra
Na mesa do mesmo bar,
Amantes de outras noites,
Destinos que o mesmo açoite
Fez tais corações chorar.

Insensatez

Insensatez

Que grande pilhéria nos faz a vida pelo aprendizado dos anos: descobrir que pelas nossas virtudes muitas vezes nos separamos e que é nos defeitos que percebemos que somos humanos e afins. (Pedro Paulo Buchalle - "O Ocaso dos Anjos" - 2004)

Ideal Humano

Ideal Humano

Uma sociedade humana IDEAL é aquela que se propõe edificar apartada da convivência iníqua entre os homens, pois somos todos obras de um mesmo desejo e de um mesmo princípio Criador; a obra perfeita do Grande Arquiteto do Universo.

Insensatez I

Insensatez I

Depois de anos de desencontros, sofridos, descobrimos que nas separações é que quase sempre verdadeiramente nos encontramos.
(Pedro Paulo Buchalle - "O Ocaso dos Anjos - 2004)

Desalento

Desalento

Saudade que hoje afaga e que seduz
Minh’alma tonta  a navegar sem luz
Seguindo o rastro do teu coração.
Não sei, mas tua distância me deixou em ais
No véu da noite  temo que
Madrugas d’antes não voltem jamais.

Quiçá, não seja hoje o que será depois
Que possa haver amanhã pra nós dois;
Que a vida não cobre aluguel.
Fugi, pensei que a vida terminara ali
Entre os soluços que ficaram aqui
Dentro do peito a tremular em vão.

No entanto a vida não seguiu assim
Pois pouco a pouco o que restou de mim
Pôs-se de pé, recomeçou o andar.
Então o que era triste passou a sorrir
O que era longe ficou bem aqui
E a tristeza deixou de ser imortal.

Fechada, a porta faz da fresta a luz
Demoram os olhos a enxergar a cruz
Que o corpo sangra no seu carregar.
E assim, sempre que vida caminha sem par,
A cura demora a chegar
Mas não sangra depois.

A Morte da Rosa

A morte da Rosa


Ave, rosa da madrugada,
Cheia de cheiro e sabor!
Que te alimentas do néctar
Dos beijos do Beija-Flor.
Bebes do orvalho a gota
Da chuva leve que açoita
E faz teu galho vergar...
A sururina te embala
A selva toda se cala
Para teu sono ninar.

E eis que a mão atrevida
Do amante te alcança o galho;
O golpe certeiro fere
Teu corpo em profundo talho.
Parte correndo o amante
Por entre lírios, errante,
Por sobre a relva a correr.
À amada te entrega aos beijos
Sem entender que o desejo
Da amada te fez morrer!