domingo, fevereiro 27, 2011

Náufragos

Náufragos


Parte -  disse a flor em prantos -
Solta tuas as amarras,
Iça tuas velas,
Não volte jamais.
E fez parar o tempo
E no seu ventre enfermo
Fez parir o vento.
E assim o viu partir errante
Buscando outro cais.
E ela enxertou-se num buquê de sonhos,
Se juntou as rosas
E amaldiçoou  em ais:

- Vais voltar um dia de velas caídas.
Quando tua quilha encalhar na areia,
Teu velame em teias
Tombará roto neste mesmo cais.
Casco fissurado a ranger desolado,
Na Praça D’armas, desgovernado,
Teu leme sem norte sozinho a girar.
Já não há mais tempo
Pros mares errantes.
Um navio fantasma, sem sonhos, sem mar.

Borralheira

Borralheira

Em brancas vestes bebeste
Desejos na madrugada.
Vestida de seda e bar
Deixaste solto no ar
O beijo da namorada.

Perambula a borralheira
Sem sapatos de cristal.
Todas as juras quebradas,
Todas as taças trincadas,
Farrapos sobre o varal.

Onde está o véu da noiva
E o vestido da Cinderela ?
A inocência perdida
Vagueia tal, mal vestida
Por entre luzes e velas...

Despetalando tuas rosas
Sem perfume no caminho;
O poste é teu leito em pé
E a porta do cabaré
Teu endereço e destino.

Vagueio eu também nas sombras
Perdido a me procurar.
Quem é que mudou o destino ?
E os meus sonhos de menino
Onde é que foram parar ?

Enfim o acaso encontra
Na mesa do mesmo bar,
Amantes de outras noites,
Destinos que o mesmo açoite
Fez tais corações chorar.

Insensatez

Insensatez

Que grande pilhéria nos faz a vida pelo aprendizado dos anos: descobrir que pelas nossas virtudes muitas vezes nos separamos e que é nos defeitos que percebemos que somos humanos e afins. (Pedro Paulo Buchalle - "O Ocaso dos Anjos" - 2004)

Ideal Humano

Ideal Humano

Uma sociedade humana IDEAL é aquela que se propõe edificar apartada da convivência iníqua entre os homens, pois somos todos obras de um mesmo desejo e de um mesmo princípio Criador; a obra perfeita do Grande Arquiteto do Universo.

Insensatez I

Insensatez I

Depois de anos de desencontros, sofridos, descobrimos que nas separações é que quase sempre verdadeiramente nos encontramos.
(Pedro Paulo Buchalle - "O Ocaso dos Anjos - 2004)

Desalento

Desalento

Saudade que hoje afaga e que seduz
Minh’alma tonta  a navegar sem luz
Seguindo o rastro do teu coração.
Não sei, mas tua distância me deixou em ais
No véu da noite  temo que
Madrugas d’antes não voltem jamais.

Quiçá, não seja hoje o que será depois
Que possa haver amanhã pra nós dois;
Que a vida não cobre aluguel.
Fugi, pensei que a vida terminara ali
Entre os soluços que ficaram aqui
Dentro do peito a tremular em vão.

No entanto a vida não seguiu assim
Pois pouco a pouco o que restou de mim
Pôs-se de pé, recomeçou o andar.
Então o que era triste passou a sorrir
O que era longe ficou bem aqui
E a tristeza deixou de ser imortal.

Fechada, a porta faz da fresta a luz
Demoram os olhos a enxergar a cruz
Que o corpo sangra no seu carregar.
E assim, sempre que vida caminha sem par,
A cura demora a chegar
Mas não sangra depois.

A Morte da Rosa

A morte da Rosa


Ave, rosa da madrugada,
Cheia de cheiro e sabor!
Que te alimentas do néctar
Dos beijos do Beija-Flor.
Bebes do orvalho a gota
Da chuva leve que açoita
E faz teu galho vergar...
A sururina te embala
A selva toda se cala
Para teu sono ninar.

E eis que a mão atrevida
Do amante te alcança o galho;
O golpe certeiro fere
Teu corpo em profundo talho.
Parte correndo o amante
Por entre lírios, errante,
Por sobre a relva a correr.
À amada te entrega aos beijos
Sem entender que o desejo
Da amada te fez morrer!