Da
leitura que fiz deste texto, organizado originalmente de maneira diversa da que
ora apresento, numa ousadia que me permiti tomar, no sentido de fazer possível
o entendimento ao profundo ensinamento apresentado, restou-me demasiado
incômodo. Incomodou-me ver até então ausentes de minha vida alguns pontos que
entendo como desejáveis à conduta humana.
O
pressuposto básico na apreensão de conhecimentos passa obrigatoriamente pela
capacidade de metabolizar. Como um organismo vivo que somos, e ai antecipo um
princípio deste texto, de que a tudo somos análogos a natureza, devemos
rejeitar os excessos e absorver a essência.
A
imperfeição a que estamos sujeitos pela falibilidade humana não nos permite realizar
esta desejável conduta na plenitude a que se refere e aconselha o autor. O
imaginável, e mais vez recorro ao princípio da razoabilidade, é que a prática
de tais anti-condutas obedeçam a um critério de mais valia; que possamos, no
nosso dia a dia, ao praticá-las, ferirmos o menos possível ao outro, na
realização destes desejos subjetivos a que estamos todos condenados. É como se
devêssemos dar certo grau de prioridade à estas ditas condutas ao critério
pretendido.
Por
certo não nos levará o texto, a nenhum de nós, à divindade pretendida pelo
tema; é certo, entretanto, que tais ensinamentos, na última das hipóteses, se
seguidos, tornarão possível por absoluta razoabilidade, aproximar na medida da
permissibilidade divina, Criador e criatura.
Bom
proveito !
Pedro Paulo Buchalle.
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RECEITA PARA SER DEUS
Pitágoras
“.
. .
Honra
primeiramente os deuses imortais, conforme o grau de preeminência, que tem
destinado a lei às suas hierarquias.Respeita com igual observância o juramento;
depois venera os heróis cheios de bondade e de luz.Rende também a mesma
veneração aos gênios ou jinas subterrâneos, dando-lhes o culto, que
legitimamente lhes é divido.
Honra
com semelhante obsequio a teu pai, e a tua mãe e a teus parentes mais
chegados.Entre a multidão dos outros homens, tu, com a tua virtude, faze-te
amigo de todo aquele que por ela mais se distingue. Cede sempre às suas brandas
advertências e relevantes ações.
E
não te ponhas logo, por qualquer leve falta, mal com teu amigo, enquanto
puderes, porque o poder mora junto com a necessidade.
Sabe
pois que assim te incumbe observar estes preceitos, mas vai contraindo hábitos
de vencer as paixões.E primeiro que tudo a da gula, e do sono,
também a da concupiscência, e da ira. Nem jamais cometas ação alguma torpe, nem
com outrem nem contigo só em particular; e sobretudo peja-te de ti mesmo.
Em
conseqüência disto, assim nas tuas mãos, como nas tuas palavras, costuma-te a
praticar a justiça e a não te portares em coisa alguma com imprudência.Mas faze
sempre esta reflexão, que decretado está pelo Fado a todos o morrer: é que os
bens da fortuna se costumam efetivamente umas vezes adquirir, outras perder.
No
tocante ao grande número de misérias da vida, que os mortais padecem por divina
fortuna, já que é força e te caiba delas por sorte alguma parte, sofre-as todas
com ânimo resignado e não te mostres impaciente.O que porem te
importa fazer é sanear a quebra dessas desventuras, o quanto estiver na tua
mão, e nestes termos considera: que o Fado nem por isso permite que sobre as
pessoas de bem venha grande tropel destas calamidades.
Ora
ouvem-se fazer entre os homens muitos discursos, uns bons, outros maus por cuja
causa nem te acovardes no exercício da virtude, nem te deixes acaso apartar do
teu medo de viver; mas se porventura se proferir alguma falsa proposição,
arma-te da paciência, usando com todos de brandura. Cumpre à risca
em tudo e por tudo com a máxima que te vou já inculcar:Ninguém te arraste, nem
por palavra, nem por oba, de modo algum.
Consulta
e delibera sempre antes de obrar, para que não chegues a por em execução
algumas ações ineptas e temerárias. Porquanto é de homem eslidamente desgraçado
não só obrar se não também falar sem tento, nem consideração.
Mas
tu nada efetuas sem antes coisas algumas tais que ao depois te não sirvam de
tormento.E não te metas a fazer coisa alguma das que não sabes; mas aprende
tudo quanto cumpre saber e, deste modo, passarás uma vida mui alegre e
deleitosa.
Nem
é justo, quanto ao penso do corpo, haver descuido na conservação da saúde dele;
mas importa guardar uma justa mediana tanto no beber como no comer e nos
exercícios.Dou pois o nome de mediana a tudo aquilo que te não
causar moléstia nem aflição.Costuma-te, por isso, a ter um tratamento asseado
sim e decente, mas sem delicadeza nem luxo. E guarda-te muito de fazer qualquer
daquelas ações que trazem consigo a repreensão e vitupério de todos os homens.
Não
faças gastos fora do tempo, como quem esta muito alheio ao decoro, nem tão
pouco sejas mesquinho, pois por onde a mediania em todas as coisas é
ótima.Assim que fazem só aquelas coisas que te não prejudicarem e considera as
bem, antes de as pores em obra.
Nem
dês entrada ao sono em teus lânguidos e cansados olhos se não depois que
examinares a consciência, discorrendo por cada uma das ações daquele dia: em
que matéria transgredi ? E que fiz eu ? Que obrigação indispensável deixou de
ser por mim cumprida ? E começando desde a primeira,
continua com o exame até a ultima de tuas ações; e depois, no caso que tenhas
obrado mal, repreende-te e, se bem, regozija-te; nestas coisas trabalha, nestas
medita, nestas convém que empregues o teu amor.
Todas
elas te sublimarão a dirigir teus passos pelos vestígios da virtude divina.Sim,
eu to afirmo e juro por aquele que deu à nossa alma o conhecimento do
Quaternário, fonte de sucessiva natureza. Mas põe só mãos a esta grande obra
depois de teres pedido aos deuses que te ajudem a levar ao fim o que vás
empreender, tendo-te já prevenido e corroborado com estes requisitos :
conhecerás tanto dos deuses imortais, como dos homens mortais as hierarquias
até onde não só cada um dos mencionados entes se estende, mas ainda até onde se
limita.
Conhecerás
também, segundo a Lei de Deus supremo, ser em tudo análoga a Natureza, de
maneira que nem tu viras a conceber esperança do que não é para esperar, nem
para ti será incógnita coisa alguma deste mundo.
Conhecerás
igualmente que os homens padecem os males, a que estão sujeitos, por sua
própria escolha. Desgraçados homens, que não reparam nos bens que têm à mão,
nem ouvidos lhe querem dar; e assim poucos chegam a saber livrarem-se dos seus
males.
Tal
é a sorte que cega os entendimentos dos mortais, que por isso eles, à maneira
de cilindros, rodam de uns para outros vícios, padecendo calamidades sem fim.
Porquanto aquele pernicioso combate, que a todos acompanha e com todos nasce, é
o mesmo que, sem eles por isso atentarem, os traz enfatuados e perdidos.
Combate
que não convém atiçar, mas sim cada um fugir dele cedendo à razão.De
quantos males por certo livrarias, ò Júpiter, Pai Soberano, a todos os homens
no caso que a todos fizessem conhecer de que demônio eles se servem!
Tu
porem cobra grande animo, visto ser divina a prosápia dos mortais a quem a
sagrada Natureza, infundindo-lhe, manifesta cada uma das coisas respectivas ao
próprio conhecimento das quais se de modo algum te achas participante, chegaras
a conseguir o pretendido fim das máximas que te prescrevo : depois de teres
curado a indisposição das paixões, livraras a tua alma de todos os trabalhos e
moléstias.
Mas
abstém-te dos manjares que nós temos proibido, tanto nas purificações, como no
livramento d’alma, discernindo entre uns e outros; e pondera bem cada um destes
preceitos, constituindo a razão mais adequada por cocheiro para ter de parte
superior as rédeas da carreira de tua vida.
E se depois de te veres já despojado do corpo, chegares à pura região do etéreo assento, será um Deus imortal, incorruptível e nunca mais sujeito, daí por diante, à jurisdição da morte.