Não é possível falar da história da maçonaria sem falar da
história do homem, de sua evolução natural e espiritual, de sua necessidade de
um Deus compatível com seus anseios investigativos e da sua constante busca
pela verdade - da sua verdade.
Daí não ser razoável, entendo, neste momento e oportunidade
falar da história da maçonaria em sentido “strictu”. Deixa-se isto para os
historiadores, que sobram em número e premissas, que a datem e cronologicamente
a coloquem no espaço e tempo, discutam sua paternidade e seus heróis, que de
fato existem.
O homem, ainda nas cavernas, descobriu a necessidade de
dispor de seres superiores em auxílio no seu cotidiano, para fazer frente aos
inimigos naturais que lhe ceifavam a vida. Frágil, estava na base da cadeia alimentar
e era a vítima perfeita para todos os predadores, de menor ou maior grau de
letalidade.
Cansado das catástrofes naturais, deixou a vida nômade de
seguir manadas de caça e as estações das frutas, estabeleceu-se nas cavernas,
criou a agricultura e domesticou o animais para sua alimentação.
Frustrado de tantos deuses, um para cada situação que lhe
afligia, depois de milhares de anos passados, concebe a divindade num Deus
único: Eis que nasce, pelas mãos dos homens as religiões, e com elas o monoteísmo.
Ocorre que pelas mesmas mãos que nasce o culto a um Deus de
bondade, nasce também, na contramão deste mesmo princípio, o poder
discricionário quando estado e religião se juntam para coibir o conhecimento, o
livre pensar e a liberdade daqueles que se opunham a estas barbáries. E à
simples manifestação de um ideia, como acreditar que a terra é redonda, resta a
estes investigadores da verdade a guilhotina, a fogueira, o esquartejamento.
Concluem, então, aqueles providos do pensar, que não conseguiriam,
pela linguagem das religiões criadas pelos homens, manter acesa a chama divina
em suas vidas: Nasce a filosofia, mas que em si mesma não se bastava, pois
ausente estava o Criador, permanecendo tão somente a razão, sem par, sozinha no
mundo das ideias.
Outros homens, entretanto, em minoria ainda mais acentuada, concluíram
- criada a filosofia - que tão somente a razão filosófica não preenchia o vazio
milenar de sua existência; era preciso agregar a Razão Filosófica um Deus de
Liberdade e Justiça: Eis que nasce a Maçonaria, uma instituição que se confunde
em regra geral com a própria idade do homem, pois, desde sempre houve um
espírito maçônico em gestação na mente humana, dada a liberdade natural que o
impulsiona, mesmo que a instituição
ainda não existisse na forma que em breve se apresentaria.
Para tal, para que ninguém fosse afastado de seu seio, não
importando a religião que seguisse, constitui-se um nome, concebido como o
GRANDE ARQUITETO DO UNIVERSO, para que nesta linguagem, todos os iniciados,
nominassem este Ser superior que os criou a todos, à sua Imagem e Semelhança,
sem linhas limítrofes territoriais e conceituais: nasce uma instituição
universal, disposta livremente por todo o Planeta Terra.
Agregado está, pois, em seu meio, todos os credos e todas as
cores dos homens, sem distinção, tendo como único e exclusivo objetivo a construção
de um homem melhor, espiritualmente em paz e sem perder o domínio da razão,
pois encontrado estava o meio termo que torna as torna compatíveis.
Elege-se, então, pela necessidade do aprimoramento do
espírito, uma Escola Filosófica, num
conteúdo programático de 33 graus, desde a iniciação no grau 1. Esta escola,
entretanto, diferentemente das outras correntes didáticas, sempre deixa, lado a
lado, ombro a ombro, de mãos dadas, Deus e a Razão.
Mais recentemente, no tempo histórico, no sentido de validar a
principal premissa de liberdade sem exclusões, outros segmentos voltados para o
mesmo fim são concebidos, entre estes :
- As Damas da Fraternidade – Esposas de Maçons, com suas
atividades de filantropia;
- A Ordem Demolay – Que agrega meninos e rapazes até 21 anos,
preparando-os como cidadãos de bem, dentro da filosofia maçônica, e para uma
maçonaria futura, independente de serem ou não filhos de Maçons;
- A Ordem Arco Íris para Meninas – Que agrega meninas até os
21 anos para serem semeadoras dos princípios fundamentais da maçonaria no seio
de suas famílias e para a sociedade;
Passado o obscurantismo que marcou a idade média, mesmo tendo
acabada a perseguição formal aos LIVRES PENSADORES, outras são as batalhas: e
vieram o fascismo, o nazismo, a escravatura nas suas diversas, antigas e presentes
formas, os governos totalitários – presentes até hoje - enfim, todas estas
formas escabrosas de cerceamento da liberdade humana, lamentavelmente, ainda
presentes no mundo do século 21, são, e continuarão sendo, para a maçonaria, o
objetivo fim de luta para seu absoluto extermínio.
Este é o meu conceito de maçonaria. Não poderia ser
diferente, em face da liberdade de pensar a que estamos constitucionalmente
sujeitos, neste diuturno tecer de conceitos e de investigação da verdade que
nos satisfaça, que nos faça bastar-se, que nos permita o repouso de nossas
consciências.
Tal é a busca do homem por uma PAZ ESPIRITUAL que o sossegue;
tal é a necessidade de harmonizar em seu peito todas as angústias de sua milenar
existência, que peço permissão para incorporar as minhas palavras a poesia de
um Maçom, já há muito no Oriente Eterno, pois como ninguém, neste poema, diz
tão bem da angústia que nos representa a todos:
Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se a arder no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.
Pobre, no bem como no mal padeces;
E rolando num vórtice insano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.
Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas com as virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:
E no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.
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